domingo, 4 de julho de 2010

De: Capitu Para: Escobar

Querido Escobar,
Escrevo-lhe esta porque estou com medo, do presente e do futuro. Sei que escrever uma carta de despedida é uma tarefa tão ingloriosa, sem o charme de uma conquista, sem o glamour de uma proposta, só com o lado obscuro da solidão que antevê, onde sufocados no silêncio das palavras que não foram ditas, os sentimentos engolem seus desejos não satisfeitos. Ficam as lacunas, os hiatos de vontades não realizadas e de quimeras que lentamente se apagam quando confrontadas com a realidade. Contudo a escrevo, porque não agüento mais enganar.
Enganar meu coração, que pensa que nosso sentimento é verdadeiro; enganar meu corpo que clama o teu toque; enganar o meu olhar que insisti em te seduzir; enganar a língua portuguesa que usa metáforas para distorce o que pensamos; enganar o Bentinho...
Nunca daremos certo, somos muito parecidos, não fazemos parte da realidade um do outro, somos apenas desejo: um desejo irracional, que eu vou sufocar para o bem de todos.
Sei que doloroso será aceitar todas as expectativas que eu havia criado para o nosso romance secreto; o não sentir a sua mão passando por minhas costas; ouvir as palavras pecaminosas sair da tua boca de anjo; passar os dias sem nossas conversas intermináveis...
Neste momento deixo-te, dizendo-te que a tua intensidade me deu um novo sopro de vida, talvez só talvez a tua intensidade seja tudo o que eu precise... Com isso te digo adeus.

Com Carinho.

Sua Amante e Cúmplice Capitu


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